aisthesis: estética e cinema (2002)
ciclo de cinema
centro cultural banco do brasil
são paulo - sp


Ilustrada, Folha de São Paulo, 09 de outubro de 2002.
MOSTRA

Ciclo "Aisthesis" inclui sete filmes, como "O Ano Passado em Marienbad", que serão tema de debates após projeções

CCBB exibe e discute estética no cinema

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Recuperar o sentido original da palavra estética por meio da sétima arte é o objetivo da mostra que começa hoje no Centro Cultural Banco do Brasil e vai até o próximo dia 20. "Aisthesis", em grego "compreensão pelo sentido", dá nome ao conjunto de sete filmes que guardam seus significados mais na experiência sensorial que desenvolve no espectador do que em sua dinâmica narrativa.
A singularidade na forma em que os cortes de cena são feitos, o uso da trilha sonora não apenas como mero fundo musical, a extrapolação dos limites da fotografia cinematográfica estão entre as características das produções escolhidas pela curadora Jane de Almeida, 38, professora de pós-graduação em educação, arte e história da cultura da Universidade Mackenzie.
A seleção vai de "O Demônio das 11 Horas", de Jean-Luc Godard, passa por "F for Fake", de Orson Welles, e chega a "Limite", do brasileiro Mario Peixoto. Mas tem como carro-chefe a exibição de "O Ano Passado em Marienbad", de Alain Resnais, que há cerca de uma década não é visto em película em São Paulo.
Jane de Almeida afirma que são poucas as realizações atuais que têm a estética como proposta. "O cinema agora está muito ligado ao empreendimento do capital e não foge a elementos que correspondam totalmente à realidade."
David Lynch, de "Cidade dos Sonhos", é citado pela curadora como exemplo de cineasta que hoje trabalha essas idéias. "Cidade" não foi incluído por ter sido exibido há pouco nos cinemas.
A mostra também promove palestras após as projeções com intenção de explicar e discutir aspectos importantes dos filmes. "Existe um público que precisa ser formado, para que não tenha preconceito contra esse tipo de produção. Muita gente diz que os filmes são chatos, mas porque a linguagem não é simples", diz.
Entre os debatedores, estarão a articulista da Folha Lúcia Nagib, que fala sobre o alemão "O Poder dos Sentimentos", e a professora do departamento de filosofia da USP Olgária Mattos, que aborda "Marienbad".
Para Jane de Almeida, o filme de Alain Resnais "faz um corte no cinema e o faz pensar tendo suas imagens não apenas como mera ilustração".

Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0910200203.htm